O evento foi inicialmente presidido pelo vereador Carlos Gueiros (PTB), sobrinho do ex-governador Eraldo Gueiros, que sancionou em janeiro de 1974 a criação da Polícia de carreira em Pernambuco. “Tenho a honra de ter sido convidado a presidir essa reunião, principalmente porque aqui eu represento a família do ex-governador Eraldo Gueiros. Comemorar os 41 anos deste concurso é, para mim, uma satisfação muito grande”, disse.
Ao tomar a palavra, Isabella de Roldão falou da experiência de ter crescido ouvindo a história da Polícia Civil de carreira através de seu pai, Roldão Joaquim dos Santos – que participou da elaboração da lei do novo modelo institucional e foi, ainda, membro da banca do concurso homenageado nesta quarta-feira. “Eu sempre escutei meu pai falando como foi. Foi uma ousadia desse homem: a partir de 1974 a polícia não seria mais feita por indicações. Imaginem a conveniência perigosa da nomeação da polícia. E Pernambuco tem que bater no peito porque tem uma Polícia Civil que, antes mesmo das mulheres poderem ser juízas, tinha mulheres como delegadas. Isso foi de uma coragem ainda maior”, afirmou a parlamentar.
Isabella de Roldão destacou a luta feminina dentro de espaços profissionais tidos como masculinos. “Quanto a gente precisa persistir para ocupar esses espaços? As últimas concursadas com certeza precisaram enfrentar menos problemas que as primeiras, mas o número de agentes e delegadas ainda é pequeno. É um avanço a gente poder ter a Delegacia da Mulher, por exemplo. Mas as mulheres não lutam por vagões rosas no metrô. Elas lutam por poder transitar nos espaços com dignidade. O machismo está muito impregnado. A gente precisa discutir isso”, pontuou.
A vereadora ressaltou a presença de delegadas na solenidade e solicitou uma quebra de protocolo que permitisse que elas dessem os seus depoimentos. Em seguida, Carlos Gueiros passou a presidência da mesa para que ela fizesse os convites à tribuna.
Isabella de Roldão convidou primeiramente seu pai, Roldão Joaquim dos Santos, que compunha a mesa da reunião. Em seu discurso, o ex-deputado estadual deu detalhes da criação da Polícia Civil de carreira e do concurso de 1974. “A polícia não podia continuar chefiada por titulares de cargos comissionados, ao bel prazer dos políticos que eram ou não atendidos pelas autoridades policiais. Eraldo Gueiros tinha essa preocupação de que o comando da Polícia Civil não ficasse na mão de pessoas indicadas”, declarou.
Também participava da mesa da solenidade a delegada de polícia Silvia Renata, que ajudou a fomentar a ideia da homenagem junto à vereadora Isabella de Roldão. “Há 41 anos, quando foi pensada a Polícia Civil, uma polícia tão masculina, se pensou na mudança e no novo. As mulheres que aceitaram participar dessa instituição encararam um desafio. São esses processos de mudança que fazem com que a gente tenha hoje instituições de segurança pública independentes. É esse o profissionalismo que a gente busca hoje. As mudanças devem vir para aperfeiçoar, não para retroceder”. Ao final de seu pronunciamento, ela registrou o nome de todas as delegadas que foram incorporadas à polícia em seu primeiro concurso.
O presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Pernambuco (ADEPPE), Francisco Rodrigues dos Santos Filho, outro integrante da mesa, discursou em seguida. “O cargo de delegado de polícia ainda passa por muitas modificações. Estamos descobrindo a verdadeira responsabilidade do cargo. E temos o que comemorar em Pernambuco. Por volta de 1998, todos os delegados de polícia do Estado eram delegados de carreira”, avaliou.
Dando início à sua quebra de protocolo, Isabella de Roldão convidou a delegada Evanise Veras, uma das pioneiras da Polícia Civil pernambucana, para subir à tribuna. “Eu tive dificuldades, claro. Havia um machismo. Algumas colegas relataram constrangimentos, mas graças a Deus eu me dei bem. A gente se impõe”, contou.
A delegada Gleide Ângelo, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), falou sobre sua trajetória e sobre a presença da mulher na polícia. “Amo ser policial. A gente vive uma cultura machista, ela não vai acabar da noite para o dia. Mas a nossa função hoje como delegada é construir, continuar um trabalho. Polícia não tem sexo, o que vale é a competência. É isso que a gente busca”, expôs.
A seguir, outra delegada pioneira da Polícia Civil de carreira, Cleide Lira, prestou seu relato. “Eu nasci na polícia, me criei na polícia e casei na polícia. Graças a Deus fui uma mulher realizada em todos os âmbitos da minha vida, como mãe, esposa, dona de casa e profissional. Se tivesse que começar de novo, eu seria delegada de polícia”.
O economista George Emilio, filho do coronel do Exército Egmont Bastos Gonçalves – que efetivou a criação da Polícia de carreira quando comandava a Secretaria de Segurança Pública –, também deu seu depoimento. “A ideia do concurso e da carreira veio antes da obrigatoriedade colocada pela Constituição de 1988. Isso é muito importante. E foi um concurso limpo e democrático, com garantia de acesso às mulheres. Isso é algo de que nos orgulhamos muito. Em 19 de outubro fez um ano que meu pai partiu, e ele partiu com a sensação de dever cumprido”, afirmou.
O subchefe geral da Polícia de Pernambuco, Luis Andrei Viana de Oliveira, participou da mesa do evento e falou sobre a profissionalização da polícia. “Antes de ser delegado eu sou polícia. Quem já esteve na ponta sabe da importância da equipe. Nesse marco inicial da Polícia de carreira, veio o concurso e, na esteira, o escrivão, o agente. Devemos buscar de forma incessante a profissionalização”, argumentou o delegado.
Ao final da reunião solene, Isabella de Roldão falou sobre a importância da manutenção do orgulho às instituições. “As instituições são locais de pessoas sérias. Quem é errado não deveria estar na polícia”, refletiu. Ela também fez um convite a um evento em homenagem aos 75 anos do nascimento do padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto – morto durante a ditadura – que vai acontecer no próximo sábado (24), na praça do Parnamirim, às 8h.